A Ciência do Vício: Por que as pessoas se viciam?

O vício é um problema complexo que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Mas o que leva alguém a se tornar dependente de uma substância ou de um comportamento? E como podemos ajudar essas pessoas a se recuperarem?

Para responder a essas perguntas, precisamos entender como o vício funciona no cérebro e no corpo. A ciência do vício é o campo de estudo que investiga os mecanismos biológicos, psicológicos e sociais envolvidos na dependência.


  • Um cérebro com uma corrente quebrada, simbolizando a liberdade do vício.

Uma das principais descobertas da ciência do vício é que o vício não é apenas uma questão de escolha ou de falta de força de vontade. Na verdade, o vício é uma disfunção crônica do cérebro que envolve o sistema de recompensa, uma rede de neurônios que libera dopamina, um neurotransmissor que nos faz sentir prazer, motivação e aprendizado.

Quando usamos uma substância viciante ou realizamos um comportamento compulsivo, como jogar, comer ou fazer sexo, o sistema de recompensa é ativado e nos faz sentir bem. Isso cria uma associação positiva entre o estímulo e a sensação, reforçando o desejo de repetir a experiência.

No entanto, com o uso repetido e excessivo, o cérebro se adapta e reduz a sensibilidade à dopamina, exigindo doses maiores ou mais frequentes para obter o mesmo efeito. Isso leva à tolerância, à dependência e à abstinência, os três estágios do vício.

Além disso, o vício interfere em outras áreas do cérebro, como o córtex pré-frontal, responsável pelo controle inibitório, pela tomada de decisões e pelo planejamento. Isso prejudica a capacidade do indivíduo de avaliar as consequências negativas do seu comportamento e de resistir aos impulsos.

Mas por que algumas pessoas se tornam viciadas e outras não? A ciência do vício também revela que existem fatores genéticos, ambientais e psicológicos que influenciam a vulnerabilidade ao vício.

Por exemplo, algumas pessoas têm uma predisposição genética que afeta a produção ou a resposta à dopamina, tornando-as mais propensas a buscar sensações prazerosas ou a aliviar o estresse. Outras pessoas são expostas a ambientes desfavoráveis, como violência, pobreza ou abuso, que aumentam o risco de desenvolver traumas ou transtornos mentais, como depressão ou ansiedade. Essas condições podem levar as pessoas a buscar refúgio nas drogas ou em outros comportamentos viciantes.

Portanto, o vício não é uma escolha racional, mas sim uma resposta adaptativa a uma situação de sofrimento. Isso significa que não devemos julgar ou punir as pessoas viciadas, mas sim compreender e ajudar.


  • Uma pessoa feliz abraçando um grupo de apoio, simbolizando a importância da ajuda mútua na recuperação.

O tratamento do vício deve ser baseado em evidências científicas e em uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos, terapeutas e assistentes sociais. O objetivo é oferecer um acompanhamento individualizado e integrado, que considere as necessidades biológicas, psicológicas e sociais de cada pessoa.

Algumas das estratégias utilizadas no tratamento do vício são:

  • A desintoxicação: consiste na eliminação da substância do organismo, sob supervisão médica. Pode envolver o uso de medicamentos para aliviar os sintomas da abstinência.
  • A farmacoterapia: consiste no uso de medicamentos para reduzir o desejo pela substância ou pelo comportamento viciante, ou para bloquear os seus efeitos. Por exemplo, a naltrexona é usada para tratar o alcoolismo e a dependência de opioides.
  • A psicoterapia: consiste na aplicação de técnicas psicológicas para modificar os pensamentos, as emoções e os comportamentos relacionados ao vício. Por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental é usada para identificar e desafiar as crenças irracionais que sustentam o vício, e para desenvolver habilidades de enfrentamento e de prevenção de recaídas.
  • A terapia de grupo: consiste na participação em grupos de apoio ou de autoajuda, onde as pessoas compartilham suas experiências, seus desafios e suas conquistas. Por exemplo, os Alcoólicos Anônimos e os Narcóticos Anônimos são grupos baseados nos 12 passos, um programa espiritual que propõe uma mudança de estilo de vida e de valores.
  • A reabilitação: consiste na reinserção social e profissional da pessoa, por meio de atividades educativas, culturais, esportivas e ocupacionais. O objetivo é promover a autoestima, a autonomia e a qualidade de vida.


O vício é uma doença crônica e recorrente, que requer cuidado contínuo e acompanhamento. Não há uma cura definitiva, mas há uma possibilidade de recuperação. Para isso, é preciso buscar ajuda especializada, ter motivação, comprometimento e esperança.

A ciência do vício nos mostra que o vício não é um defeito moral ou de caráter, mas sim um problema de saúde que pode ser tratado. Também nos mostra que o vício não é um destino, mas sim uma oportunidade de transformação.

Fontes:

1 - A ciência do vício: por que você nem sempre gosta das coisas que deseja? - BBC News Brasil

2 - ‘Vícios têm origem em traumas e não estamos atacando as causas do problema’ - BBC News Brasil

3 - O que é ciência do vício? - Spiegato

4 - O que é vício e quando algo se torna um? Psicólogo explica - Eurekka

5 - A Psicologia do Vício by Editora Blucher - Issuu


Ivan Possamai

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